quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Trecho do conto "Foi o trigésimo terceiro - O calvário"

V
Dormimos entrelaçados, nus, nossos corpos se complementavam, era a reconfiguração da matéria!                                               
Estava prestes a amanhecer, eu despertava em sobressalto vez ou outra, tateava seu corpo testando a realidade das coisas. Ainda estava ali!
Ele disse que sofria de insônia, mas naquele amanhecer ele estava curado e ressonava enquanto minha cabeça em roda me impedia de dormir, eu que nunca sofrera de insônia! Se eu impedisse a hora da partida, se eu bloqueasse a clepsidra que rege o universo, teríamos a eternidade e não haveria dor.
Mas, o despertador tocou, tínhamos que ir! A metamorfose se pronunciara, já estávamos separados, precisávamos falar para que pudéssemos nos entender, o expressivo silêncio falhava!  Já corríamos o risco de nunca mais nos entendermos porque a linguagem é treda, dela entendemos apenas a nossa própria história e, raramente, a do outro que narra. A linguagem traí...
Eu já estava ensaiando o que dizer, tinha que parecer interessante para que ele voltasse sentindo minha falta, mas toda vez que eu tentava ser interessante minha voz saia entrecortada, dava até gagueira, minhas mãos transpiravam, podia mesmo tropeçar. Em frente ao espelho eu estava assombrada com a minha pequenez, tornava-me uma criança desamparada e tola, e rogava a ele em silêncio que de mim cuidasse, que não me deixasse órfã!

4 comentários:

  1. Carol, adorei a parte da linguagem que trai!
    Ali vc estava solta e segura!
    Bjs

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  2. Que bom que gostou! Ah, obrigada por ler!!Estou tomando coragem para postar o texto na íntegra!
    Bjus

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  3. Carol adorei! Continue escrevendo para sempre!
    www.edivansantos.zip.net

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